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Coronavírus destaque

Webinar traz as experiências de profissionais que estão na linha de frente no combate ao coronavírus e suas consequências

 

Práticas e ações na área de saúde para manter corpo e mente saudáveis na pandemia

A partir de 31 de dezembro de 2019, o mundo não seria mais o mesmo. A data registra o primeiro caso pelo novo coronavírus, Sars-CoV2, na cidade de Wuhan, na China. Desde então, a doença infectocontagiosa se espalharia rapidamente pelo mundo. Em março último, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiria o surto como pandemia; poucos dias depois foi confirmada a primeira morte no Brasil, em São Paulo, e um crescimento vertiginoso de contaminados e mortes no País e em todos os continentes. Para evitar a disseminação do vírus foi determinado o isolamento social e físico. No Estado de São Paulo, a quarentena foi decretada pelo governo a partir de 23 de março, seguindo-se a prorrogação da medida por diversas vezes.

A pandemia gerou mudanças radicais no dia a dia de milhões de pessoas e problemas de todas as ordens – econômica, social e pessoal. Para ajudar a compreender a situação e criar condições de superação da melhor forma possível, o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo realizou o webinar “Cuidados com corpo e mente em tempos de pandemia”, recebendo profissionais gabaritados da área da saúde: os médicos intensivista e cirurgião cardiovascular, coordenador das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e de Internação do Hospital Villa Lobos da Rede D’Or, Gustavo Ferreira Araújo; e psiquiatra assistente do setor de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Kawakami; além da psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental do Espaço Mente&Corpo NM, Nilva Marcandalli.

Alta letalidade
Em sua apresentação inicial, o médico intensivista Gustavo Ferreira Araújo relacionou dados para mostrar a gravidade da situação gerada pela pandemia. De acordo com o profissional, mais de 18 milhões de pessoas já foram contaminadas em todo o mundo; nos Estados Unidos a Covid-19 já matou mais pessoas do que o total de americanos mortos na Primeira Guerra Mundial e nas guerras da Coreia, do Iraque e Afeganistão. No Brasil, prosseguiu, já são mais de 2,8 milhões de contaminados, em torno de 96,4 mil mortes em apenas quatro meses ante 82.356 de pessoas em todo o ano de 2019 por acidentes e assassinatos. Por minuto, no País, 35,9 pessoas são contaminadas pelo vírus e há 0,8 mortes pela doença.

“Comparando a Covid-19 com outras moléstias, nos últimos tempos, ficamos muito assustados com o alto grau de letalidade. Por exemplo, em 2019, a H1N1 matou 18 mil pessoas no País. Outros grandes males atingiram a população mundial em tempos onde o desenvolvimento científico e o conhecimento eram bem menores”, observou, como foi o caso da gripe espanhola (1918-1920), “que matou milhões de pessoas no mundo”. Segundo a Agência de Notícias da Fiocruz, a gripe espanhola teria dizimado "cerca de 50 milhões".

Como a pandemia exigiu a mudança de hábitos, principalmente o isolamento físico, tal realidade também implicou alterações de procedimentos e protocolos nas unidades de saúde. “Dentro dos hospitais, vimos que precisávamos de mudanças e soluções emergenciais para atender aos pacientes e familiares e garantir condições seguras para toda a equipe de saúde e de atendimento dentro das instalações. Todos precisávamos estar seguros”, lembrou. Uma das primeiras medidas, disse, foi garantir equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados, de qualidade e em quantidade necessária para todos os profissionais e funcionários. “Sabíamos que o risco era e é grande. Também contratamos mais médicos.”

Outro ponto destacado por Araújo foi que, como tudo aconteceu de repente, era necessário prover a todos – pacientes, familiares e equipe – de informações sérias sobre a doença. “Isso, podemos dizer, é a coisa mais fácil do mundo hoje em dia, mas estamos falando da informação séria, comprovada e adequada que nos ajudasse a construir condutas seguras para todos”, pontuou. Além do atendimento de saúde, o hospital também criou ações “para estimular as pessoas, mesmo com todo o cansaço, como o programa 'Cuidando de quem cuida', certificados de reconhecimento com elogios dos pacientes e familiares e até um concurso fotográfico para mostrar o cuidado entre as pessoas”.

Uma das questões mais sensíveis durante a internação do paciente é como manter, de alguma forma, o contato com familiares, responsáveis e amigos. “As visitas presenciais estavam proibidas, porque era necessário garantir a segurança de todos. Por isso, garantiu-se, inicialmente, com todos os cuidados, o contato via telefone; videochamadas principalmente para os pacientes idosos, com o acompanhamento do nosso serviço social”, informou Araújo, acrescentando que as visitas ainda não estão liberadas.

Os mesmos cuidados também estavam em outra ponta: do médico com os familiares. “Por incrível que pareça, o contato presencial, que se dava em torno de uma hora, passou para duas ou mais horas via telefone, e sentimos que as pessoas, na ligação telefônica, ficavam até mais atentas às informações.”

Ação importante, observou Araújo, foi a adoção do "crachá humanizado" dentro do hospital, pois a utilização de diversos EPIs dificultava a identificação dos profissionais. Todos da equipe, ressaltou o médico, estavam imbuídos em criar ambientes mais humanos e agradáveis; nesse sentido, até o pessoal da nutrição do hospital elaborou mensagens de apoio que iam junto com as dietas dos pacientes. “A Covid não é uma doença apenas, trouxe uma revolução”, acredita o profissional. E prosseguiu: “Nada será como antes. O que ela pode nos trazer é o sentimento de cuidar das pessoas, de pensar um pouco mais no outro.”

Apaixonado por música, como frisou, Araújo finalizou a sua apresentação no webinar citando a música “Heal the world”, de Michael Jackson, em que o cantor estadunidense fala para que todos se importem uns com os outros, fazendo do mundo um “lugar melhor”.

Atendimento psiquiátrico
O médico psiquiatra Daniel Kawakami trouxe a realidade dos pacientes que necessitam do atendimento dessa especialidade. “A pandemia trouxe uma mudança brutal em nossa atuação. Trabalho num hospital público de referência na área, ligado ao ensino e aos residentes, onde houve a necessidade de divisão de unidades e enfermarias e a criação de equipes de Covid e não Covid”, informou. Pacientes infectados que necessitavam de uma avaliação psiquiátrica tinham de passar para os médicos destinados à doença. “Isso alterou o fluxo e refletiu até no ensino com os residentes, pois muitos médicos que estavam se especializando em psiquiatria tiveram de voltar para a área clínica.”

Kawakami também faz atendimento em um hospital psiquiátrico para a infância e adolescentes, em Embu das Artes (SP). “Essas alterações também chegaram a esse público, o que causou um estresse muito grande para todos, porque no atendimento psiquiátrico a gente incentiva a interação, os grupos terapêuticos e isso não podia mais ser indicado por causa do isolamento social. Isso tem causado um impacto muito grande. Receber pacientes e deixá-los isolados, em quarentena, por 14 dias, já é difícil para nós, adultos, imagine para adolescentes e crianças com quadro depressivo e de humor grave”, observou.

A mesma realidade, disse, é sentida nos atendimentos em consultórios particulares, que passaram a usar a telemedicina e as receitas digitais. “Ainda estamos tateando nesse ambiente novo, seja o médico, o paciente, o familiar.” Tudo isso, prosseguiu, para uma doença infectocontagiosa com uma mortalidade de 2%, “uma taxa que não é pouca”. Para ele, a sociedade passa por uma “transição demográfica” quanto à letalidade. “Hoje o que mais mata é o câncer e as doenças cardiovasculares e inflamatórias (diabetes, obesidade etc.), mas agora vemos essa transição da mortalidade relacionada a questões mais de hábitos e higienização”, pontuou.

O médico, ao mesmo tempo em que observou que a doença vai matar principalmente as pessoas que já têm uma reserva funcional – tabagistas, hipertensos, idosos e pacientes psiquiátricos –, alertou que o novo coronavírus vai acarretar danos para todas as pessoas. “A pandemia pegou a todos desprevenidos e, sem saber o que fazer, muitos pacientes deixaram de ir a consultas, fazer exames e outros procedimentos.” Assim, alertou: “A pandemia não vai matar apenas os infectados pelo vírus, mas causará mortes por outras doenças e falta de tratamento.”

Nos atendimentos psiquiátricos, o especialista informou que houve um aumento grande no quadro de pessoas com ansiedade. “Eu tive pacientes pedindo receita de ivermectina, um vermífugo, que não era controlado, mas passou a ser. Não tem cabimento um pedido desse, mas isso mostra o nível de desorientação das pessoas.”

O especialista entende que a pandemia trouxe situações as mais diversas e que não dá para generalizar. “Teve aquele paciente cujo quadro de ansiedade não se agravou exatamente por conta do isolamento, ao conseguir ter mais tempo para a família. Mas também pode trazer à tona problemas mal resolvidos, mais uso de álcool e desestabilizar dependentes químicos que estavam estáveis.” A crise também pode ser vista, acredita Kawakami, como uma oportunidade de mudanças, crescimento e de melhorias, referindo-se ao ideograma chinês weiji, que significa “crise” e é formado pela junção de dois outros: o negativo, “perigo” (wei), e o promissor, “oportunidade, ocasião propícia”.

Valor do tempo
A psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental Nilva Marcandalli disse que vem observando bastante nos seus atendimentos clínicos que a quarentena causou a privação de reforçadores importantes para as pessoas no dia a dia. “Perdemos algumas coisas que nos eram agradáveis, como a compensação de uma semana inteira de trabalho ao aproveitar o final de semana”, exemplificou.

Ela notou que quando a pandemia começou a atingir o Brasil, as pessoas ficaram assustadas com o vírus e com medo de ficarem doentes ou morrerem. “Eram muitas as incertezas, por isso, ficaram realmente numa fase de proteção, sentindo que estavam se cuidando e sendo cuidadas, e que permanecer em casa era uma medida real de proteção.” Porém, refletiu, à medida em que a quarentena foi sendo prorrogada várias vezes, prolongando o tempo de isolamento, isso começou a também criar uma sensação de esquecimento da doença e do contágio e criou uma ansiedade. “As pessoas começaram a se questionar: o que faço com esse tempo que tenho agora, como vou viver, o que vou fazer no final de semana, como brincar com os meus filhos, não sei o que falar com o meu marido”, recordou. Na sua análise, essas perguntas demonstram que as pessoas esqueceram como aproveitar e viver a vida e passaram a um ritmo baseado no trabalho, principalmente. A ansiedade, explicou, vinha sob a forma de não se poder pensar mais no próximo momento, “porque a pandemia acabava com ele”.

Na outra ponta, continuou, tem o home office, que também tem adoecido física e mentalmente as pessoas. “Sabemos de muitos casos em que a produtividade no trabalho aumentou nessa modalidade, alcançando o que não conseguia no trabalho presencial. Mas isso acabou criando um ciclo de mais resultados.” Para a psicóloga, este momento se prolongará mais do que imaginamos, e “precisamos nos preparar para os novos desafios, por isso devemos criar rotinas e métodos”.

A terapeuta cognitivo-comportamental orientou a se fazer uma lista de verificação de tarefas com agenda, valores e objetivos, assim como criar reforçadores adaptados ao ambiente doméstico, como aprender algo novo ou evoluir em um conhecimento; meditar, orar, silenciar, contemplar; permitir-se a hora do ócio, que pode ser ver uma série na TV; exercícios físicos; tomar sol; obrigações diárias; e fortalecer vínculos, com amigos, familiares e outras pessoas. “Precisamos reiniciar o cérebro sempre”, indicou. Para ela, o momento atual pode significar “viver o hoje, programar-se, manter ou criar projetos. Parece clichê, mas é a mais pura verdade: viva um dia de cada vez".

Sobre a negação da doença que se vem percebendo muito na sociedade brasileira, Marcandalli explicou que a mente tende a se proteger do que é desconhecido, de medos, e isso gera a negação até de modo inconsciente. “Outro ponto que devemos prestar a atenção é o luto, porque não estamos vendo o sofrimento e o choro das pessoas. Não estamos chorando e velando, e aí a morte vira apenas um número”, advertiu. Ainda com relação à perda, a especialista orientou para não disfarçarmos a dor ou o choro. “Se ela vier, pare, sinta e respeite este momento; porque uma hora essa dor virá, então, permita-se, em pequenas doses, senti-la. Diria para que busquem apoio e ouvidos para colocarem para fora o que estão sentindo. É preciso realmente de um profissional para ouvir sua queixa sobre como continuar vivendo. Por isso, cuide muito bem da sua saúde mental.”

* Matéria publicada, originalmente, no site do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP)

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